O Espírito da Colherinha
Existem coisas em nossa vida que, pelo excesso de repetições, tornam-se automáticas. A essas coisas damos o nome de hábitos. Hábitos podem variar das coisas mais improváveis a quantas colherinhas de açúcar você mistura no seu suco.
Hábitos são nossos, não de nascença, e não raro nos acompanham até a sepultura. Se alguém me perguntasse o porque dos hábitos serem chamados de hábitos, eu diria que é porque eles acabam por habitar em nosso espírito (num sentido talvez laico demais da palavra) e, assim, como tijolos, constroem o nosso "eu-automatizado".
Voltemos ao exemplo das colherinhas de açúcar, que aliás foi o que começou a discussão toda entre meus neurônios. Entrei em minha cozinha hoje, 00h "e poucos", e fui apressado preparar o meu lanche, como habitualmente faço. Poucas coisas mudam nesse processo. O ato de cortar um queijo, passar manteiga no pão, abrir a geladeira e olhar sem achar nada - para depois lembrar que na verdade você não procurou, simplesmente abriu, tudo isso são processos automatizados e até a sequência deles costuma ser igual. Mas as colherinhas, percebi enquanto adicionava o açúcar à minha limonada, tem um poder maior. Interferem em outra parte do nosso "eu", a parte espontânea e emocional.
Não acredita? Pois bem...
O problema começa, especialmente para as mulheres, no produto contido na bendita colherinha. "Açúcar ou adoçante?". Começaram a entender onde eu quero chegar né? Além do produto a ser ingerido, o tamanho da colher também mexe conosco. Quando vou a algum lugar que disponha de colheres de café para servir o açúcar já começo a ficar perdido. Em minha casa utilizo as de sobremesa. Mas você também já deve ter reparado que as colheres de sobremesa de uns tempos pra cá começaram a mudar de tamanho, talvez fruto da preocupação "coma devagar e comerá menos" ou "aproveite o gosto e não terá que comer mais". Eu particularmente considero as colheres de chá derivadas da colher de sobremesa, mas isso é outra discussão. Fato é que, variando o tamanho da colher, já não temos mais a menor noção do tanto de açúcar que estamos colocando em nossos sucos e afins, gerando comentários como "Você sempre come esse tanto de açúcar?" ou "Como que você aguenta tomar limonada com esse poquinho de açúcar?" e esse último por muitas vezes nos leva a uma situação de constrangimento na qual tomamos uma limonada amarga e sem doce simplesmente para não ter que dar o braço a torcer.
Nenhum desses questionamentos, pensamentos ou respostas citadas acima são de cunho automatizado, digamos assim. Todas elas mexem de alguma forma com o nosso "eu-gordinho" ou "magrinho" e impressionantemente são geradas pela única pergunta: Quantas colheres de açúcar?
Talvez seja por isso que os adoçantes em pó já venham com colheres dosadoras próprias e a preferência nacional gire em torno dos apresentados em gotas, mas num é que o tal do "Espírito da colherinha" tem poder mesmo?
PS. Viu só? O poder das colherinhas se manifesta até no tamanho de texto que a discussão sobre ele gera.
5 comentários:
Eu sou pró aos adoçantes em gota. Pela praticidade mesmo e também pq a sensação de controle sob as gotas me facina. rsrsr
Eu odeio adoçantes.
Deixam amarguinho.
erght
Completamente de acordo com vc carol!
Com exceção do aspartame em pó...
Com o açucar em pó vc ainda pode dizer 2 colheres e meia.
Mas como dizer "2 gotas e meia?"
Logo, viva a precisão que só o açucar te traz!
CArol, vc n conhece a arte das 2 gotas e meia?!?!
Vou ter q te ensinar... rsrs
Postar um comentário