sábado, 5 de maio de 2007

O Espírito da Colherinha

Existem coisas em nossa vida que, pelo excesso de repetições, tornam-se automáticas. A essas coisas damos o nome de hábitos. Hábitos podem variar das coisas mais improváveis a quantas colherinhas de açúcar você mistura no seu suco.

Hábitos são nossos, não de nascença, e não raro nos acompanham até a sepultura. Se alguém me perguntasse o porque dos hábitos serem chamados de hábitos, eu diria que é porque eles acabam por habitar em nosso espírito (num sentido talvez laico demais da palavra) e, assim, como tijolos, constroem o nosso "eu-automatizado".

Voltemos ao exemplo das colherinhas de açúcar, que aliás foi o que começou a discussão toda entre meus neurônios. Entrei em minha cozinha hoje, 00h "e poucos", e fui apressado preparar o meu lanche, como habitualmente faço. Poucas coisas mudam nesse processo. O ato de cortar um queijo, passar manteiga no pão, abrir a geladeira e olhar sem achar nada - para depois lembrar que na verdade você não procurou, simplesmente abriu, tudo isso são processos automatizados e até a sequência deles costuma ser igual. Mas as colherinhas, percebi enquanto adicionava o açúcar à minha limonada, tem um poder maior. Interferem em outra parte do nosso "eu", a parte espontânea e emocional.

Não acredita? Pois bem...

O problema começa, especialmente para as mulheres, no produto contido na bendita colherinha. "Açúcar ou adoçante?". Começaram a entender onde eu quero chegar né? Além do produto a ser ingerido, o tamanho da colher também mexe conosco. Quando vou a algum lugar que disponha de colheres de café para servir o açúcar já começo a ficar perdido. Em minha casa utilizo as de sobremesa. Mas você também já deve ter reparado que as colheres de sobremesa de uns tempos pra cá começaram a mudar de tamanho, talvez fruto da preocupação "coma devagar e comerá menos" ou "aproveite o gosto e não terá que comer mais". Eu particularmente considero as colheres de chá derivadas da colher de sobremesa, mas isso é outra discussão. Fato é que, variando o tamanho da colher, já não temos mais a menor noção do tanto de açúcar que estamos colocando em nossos sucos e afins, gerando comentários como "Você sempre come esse tanto de açúcar?" ou "Como que você aguenta tomar limonada com esse poquinho de açúcar?" e esse último por muitas vezes nos leva a uma situação de constrangimento na qual tomamos uma limonada amarga e sem doce simplesmente para não ter que dar o braço a torcer.

Nenhum desses questionamentos, pensamentos ou respostas citadas acima são de cunho automatizado, digamos assim. Todas elas mexem de alguma forma com o nosso "eu-gordinho" ou "magrinho" e impressionantemente são geradas pela única pergunta: Quantas colheres de açúcar?

Talvez seja por isso que os adoçantes em pó já venham com colheres dosadoras próprias e a preferência nacional gire em torno dos apresentados em gotas, mas num é que o tal do "Espírito da colherinha" tem poder mesmo?

PS. Viu só? O poder das colherinhas se manifesta até no tamanho de texto que a discussão sobre ele gera.

5 comentários:

Pipa Cavalcanti disse...

Eu sou pró aos adoçantes em gota. Pela praticidade mesmo e também pq a sensação de controle sob as gotas me facina. rsrsr

Carolina Vilela disse...

Eu odeio adoçantes.
Deixam amarguinho.

erght

Bruno Moraleida disse...

Completamente de acordo com vc carol!

Com exceção do aspartame em pó...

Carolina Vilela disse...

Com o açucar em pó vc ainda pode dizer 2 colheres e meia.

Mas como dizer "2 gotas e meia?"

Logo, viva a precisão que só o açucar te traz!

Pipa Cavalcanti disse...

CArol, vc n conhece a arte das 2 gotas e meia?!?!

Vou ter q te ensinar... rsrs