quarta-feira, 23 de janeiro de 2008

Mergulhando em Molière

ARGAN. -Tres y dos cinco, y cinco, diez, y diez más, veinte... Tres y dos cinco.
"ltem, el día 24, una ayuda estimulante, preparatoria y emoliente, para ablandar, humedecer y refrescar las entrañas del señor." Lo que más me agrada de Fleurant, mi boticario, es su cortesía:
"Las entrañas del señor, seis reales." Pero eso no basta, amigo mío: a más de correcto, es preciso ser razonable y no desplumar a los pacientes. ¡Seis reales por una lavativa!... Ya sabéis cuánto me satisface complaceros; pero como en ocasiones anteriores me las habéis cobrado a cuatro reales, y en lenguaje de boticario cuando se dice veinte hay que entender diez, pongamos dos reales... (...)

Assim começou minha primeira leitura de Molière. "El Enfermo Imaginario", ou "O Doente Imaginário" na versão brasileira, foi meu souvenir preferido da viagem a Buenos Aires. Por uma barganha de 9,90 pesos levei a versão completa da obra com as músicas preservadas no original italiano - apesar da obra ter sido escrita em francês.

Finalmente, então, mato a minha curiosidade com essa mente brilhante. Com a ajuda de alguns dicionários e uma boa disposição acredito que será uma ótima aventura.

domingo, 20 de janeiro de 2008

O Brasil em 5

Nesta semana fui ao cinema duas vezes e assisti ainda 3 filmes alugados. Na primeira ida ao cinema peguei uma sessão tarde da noite para assistir o muito falado "Meu nome não é Johnny". Enquanto esperávamos para comprar ingressos um casal chegou um pouco apressado como se tivessem ido ao shopping àquela hora apenas para tentar um filme. Primeiro pensamento: "Eles devem adorar filme. Já conhecem o caixa do Cinemark pelo nome. Com certeza vão entrar na mesma sessão que a nossa." Grande decepção foi a que eu tive quando ouvi a mulher dizer: "Ah, é filme brasileiro... Muito ruim! Não assisto."

Muitas pessoas ainda nutrem esse preconceito como se filme brasileiro fosse sinônimo de pornografia - ou porcaria, como você preferir -, mas a verdade é que os filmes brasileiros estão cada vez mais bonitos de se ver. Dos cinco filmes que vi nessa semana, 4 eram produções brasileiras e o quinto, uma produção americana com atores brasileiros envolvidos. A lista foi essa:

1) Meu nome não é Johnny! - Brasil 2008
2) O amor nos tempos do cólera - EUA 2007
3) Muito Gelo e Dois Dedos D'agua - Brasil 2006
4) O ano em que meus pais saíram de férias - Brasil 2007
5) Olga - Brasil 2004

Surpreendentemente, ou não, a pior produção foi a americana. Uma história com pouca coesão, muita enrolação e um inglês um tanto quanto sofrível por parte de alguns atores. Já "Meu nome não é Johnny", ao contrário do que dizia a moça da fila, arrasou! Quebrou muitos tabus e fez de uma história que tinha tudo para ser tratado como um profundo drama pessoal uma comédia hilariante que faz tão bem quanto o papel de despertar para o prejuízo do envolvimento com drogas.

"Muito gelo e dois dedos d'água" foi simplesmente uma pérola do humor negro inteligente. "O ano em que meus pais saíram de férias" e "Olga" também foram excelentes. Matéria-prima de clássicos do cinema. Muito bem filmados, com uma qualidade de imagem que surpreenderia a muitos preconceituosos e atuações em geral acima da média brasileira, com certeza me ganharam como fã.

O cinema brasileiro está cada vez melhor e se você, como eu fui um dia, anda cheio de preconceitos com as produções recomendo os títulos acima para começar. Toma coragem, vai...

sexta-feira, 18 de janeiro de 2008

Muito Gelo e Dois Dedos D'agua

"Um copo longo com muito gelo e dois dedos de água... deu pra entender?
É isso!
(...)
Eu gosto do efeito do whisky mas não gosto do sabor."
*
***
*
"Muito gelo e dois dedos d'agua...
Não é o seu Whisky. É você!
(...)
Você é um iceberg flutuando numa piscininha de plástico."
*
***
*
Fantástico o filme. Recomendo.
Mais um trunfo brasileiro.

quarta-feira, 9 de janeiro de 2008

Um milhão de aplausos...

Pra variar tem algo intalado que não quer sair. Simplesmente aqueles bons momentos se recusam a virar palavras. Não sei que fenômeno é esse em que é sempre mais fácil escrever sobre a dificuldade de se expressar do que se expressar em si.

De alguma forma o impacto que aquela noite no café Tortoni teve em mim foi maior do que simplesmente o de conhecer mais uma manifestação artística e cultural. Por estranho que pareça aquela mulher que cantava versos - por vezes incompreensíveis - transmitiu uma carga de emoção ao seu público que valeu, entenda quem puder, mais que milhões de aplausos.

Talvez tenha sido impressão minha por causa dos meus olhos que mal piscavam, mas sentia como se cada longo suspiro da cantora junto ao som do bandoleón, do violino, piano e baixo formavam uma expressão do que seja o tango para os porteños e não para os turistas.

Tudo era muito bem ensaiado, não havia sombra de dúvidas de que aquele show era feito e refeito noite após noite. Os mesmos versos, os mesmos passos de dança, os mesmos acordes, mas sentimentos sempre genuínos. Sentimentos como os de Manuel Romero em "La canción de Buenos Aires".

Não sei explicar mais poeticamente, nem com uma veia literária melhor. Mas num salão onde alguns nada falavam de espanhol, o sentimento parecia ser o mesmo. O de querer entender como se vive tão intensamente uma arte.



"Buenos Aires, donde el tango nació,
tierra mía querida,
yo quisiera poderte ofrendar
toda el alma en mi cantar.
Y le pido a mi destino el favor
de que al fin de mi vida
oiga el llorar del bandoneón,
entonando tu nostálgica canción."
(Manuel Romero - La canción de Buenos Aires)

PS. Esse post recebeu o label "morfologia da mente" porque de "O nada e o pouca coisa" ele definitivamente não tem nada.