Mais uma lição do mestre...
Numa ida despretensiosa à locadora acabei alugando um filme que queria ver desde que saiu em alguns poucos cinemas no ano de 2004. Um filme que conta com um elenco de atores renomados, diretor bem falado e texto de Shakespeare não poderia ser uma má escolha. Das prateleiras da locadora Popular para o meu aparelho de DVD saiu "O mercador de Veneza".
A princípio surpreendi-me com uma atuação deveras mediana de Al Pacino como o agiota judeu Shylock, mas depois de algum tempo de filme, compreendendo o real tormento da alma de Shylock as coisas melhoraram um pouco. Um pouco. Já Jeremy Irons (Antonio) e Lynn Collins (Portia) - de quem nunca havia sequer ouvido falar - tiveram bons momentos, principalmente Collins.
O filme deixou um pouco a desejar por não conseguir aliar a rapidez do desenvolvimento da história e a clareza, porém isso fica compreensível quando se considera que as peças de Shakespeare definitivamente não foram feitas para durar apenas duas horas. Pressa não era um dos elementos base no desenvolvimento de suas histórias.
Ao voltar na locadora para devolver o filme, me deparei com "A megera domada" (1967) estrelando Richard Burton e Elizabeth Taylor. "Imperdível", pensei logo de cara, aproveitando então o embalo shakespeariano, loquei.
As atuações são pouco atraentes aos olhos, não pela falta de qualidade, mas pelo contexto retratado. Interessante foi notar a preocupação em manter o "deboche teatral" de Shakespeare. Exageros que seriam inaceitáveis nas telas de cinema foram admitidos por fidelidade à obra. Algumas coisas, porém, passaram dos limites do meu gosto. Um filme muito bom para quem tolera o vocábulo prolixo de Shakespeare e as imagens recauchutadas de filmes antigos.
No entanto, como diria o próprio Shakespeare: "Existem mais coisas entre o céu e a terra do que sonha a nossa vã filosofia". E nesses dois filmes seguidos foi que muita coisa sobre o camarada autor me saltou aos olhos.
Louvamos sua genialidade com as palavras, mas talvez no nosso pouco conhecimento deixemos passar algumas características fantásticas de sua obra. Eu, particularmente, sempre percebi Shakespeare como um cara um pouco sacana que gosta de uma piadinha suja por debaixo dos panos (pelo menos para nós, meros cidadãos do futuro). Um humor notávelmente popular e rude. Mas o que eu nunca havia notado era como essa robustez levemente se dissolvia em mensagens brandas e de bons costumes. Me parece que suas obras sempre julgavam ter algo à acrescentar. As figuras do amor, da fidelidade, da amizade e da justiça têm sempre grande destaque e, apesar de fugir da dicotomia exagerada entre o bem e o mal, o triunfo dessas características é sempre evidente. Mesmo nos tristes fins.
Shakespeare talvez possa nos ajudar a compreender, dentro da ótica cristã, o que é cativar um público e passar uma mensagem sem "agressões" psicológicas e obviedades. E bendito seja ele se o fizer!
Um comentário:
Pô, a Megera Domada é um belo clássico. Tenho em DVD. Shakespeare foi UM dos caras, com certeza!
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