segunda-feira, 13 de novembro de 2006

A criação da pessoagem

Hoje me peguei pensando que talvez o teatro seja uma forma mais completa de vida. Estranho dizer isso, mas me parece que o teatro se preocupa mais em viver do que nós mesmos. Muitas coisas que por vezes nos passam batidas são abordadas profundamente e levadas seriamente em conta na hora de criarmos um personagem.

Digo isso porque hoje fiz essa descoberta sobre o meu, agora já velho, eu. Descobri que vivia sem motivação, ou melhor, sem objetivo.

Há um tempo atrás dediquei um de meus ensaios a aprender juntamente com o grupo um dos princípios do teatro do tio Stan. No capítulo de seu livro em que discursa sobre a ação dramática Stanislavski diz que toda ação dramática deve ter um objetivo. Não adianta, segundo ele, que você faça algo só por fazer, você tem que acreditar que está fazendo aquilo. Esse conceito é mais aprofundado no capítulo "Fé e sentimento da verdade" que, aliás, foi um dos mais enriquecedores para mim.

Como ia dizendo, descobri, então, que vivia mais intensamente meus personagens do que a minha própria vida. Pesquisava mais sobre o interior deles do que sabia verdadeiramente sobre o meu. Algo de extremamente prejudicial já que o conhecimento de você mesmo é matéria-prima de criação fundamental.

Reagi, no entanto. Vivi o meu hoje intensamente. Cumpri com minhas responsabilidades e, ainda assim, tive tempo de estar aqui e contar para vocês. Isso é uma satisfação enorme.

Moral do dia: Não apenas viva sua atuação. Atue a sua vida, se for preciso.

Um comentário:

Pipa Cavalcanti disse...

Que belo solilóquio!
Tão cativante,tão sincero e tão real que me encontrei em meio ao personagem outrora errante.

Atuemos em nossas vidas e façamos dela um palco! Você ja sabe: Luzes de ensaio, por favor!

O 3o sinal ja tocou, alvoroço na coxia. Me preparo para entrar em cena.

Nos vemos por aí?

Abraço!