sábado, 6 de outubro de 2007

Abusei...

É fato que boas peças ficam em cartaz por muito tempo. Nesse tempo que me divertia com a idéia do paulista, paulista, paulista que vocês já cansaram de ler, me diverti ao pensar na extrema diferença que existe entre o cenário Belorizontino e Paulistano de cultura e as atrações que eles sustentam. Mais precisamente isso me ocorreu quando passeava pelo site da Belotur e percebi que Belo Horizonte sustenta uma peça de temporada quase infinita.

Cansei de contar as vezes em que perguntei a alguém sobre a última vez que foi ao teatro e a pessoa me respondeu: "Ah, fui assistir 'Meu tio é tia'... é ótimo, você morre de rir". Eu particularmente nunca tive coragem de ir assistir à essa peça - não estou pronto pra morrer ainda - mas por conversas que já tive com pessoas de opinião semelhante à minha, acredito que ela faz parte de uma política de "Pão e Circo" que impera em BH.

Segundo a Wikipédia, em um artigo talvez um pouco inadequado para os fins, "Pão e Circo" era uma conhecida política do Imperador César, exercida no Antigo Império Romano (...) uma maneira de contentar a população oferecendo comida e diversão, dessa maneira obliterando o espírito crítico e a capacidade ativista e contestadora.

Confesso que quando escrevi pela primeira vez nesse artigo a expressão "Pão e Circo" o fiz só porque achei que era legal, mas como pôr links no post dá a idéia de que você realmente pesquisou e se dedicou para completá-lo, resolvi procurar saber. Acho que o que mais me impressionou foi uma frase que talvez descreva exatamente o que quero dizer: obliterando o espírito crítico e a capacidade ativista e contestadora.

Em Belo Horizonte ou você come com os amigos, ou você assiste com os amigos.

-Onde você foi hoje?
-Fui assistir um cinema com os amigos...
-Fui comer com os amigos...
(nesse caso, abre-se uma exceção e beber se torna parte da categoria comer)

Até quando você resolve simplesmente ir ao parque, nós inventamos de fazer piquenique. Aí está o nosso Pão.

O Circo, então, consiste numa falsa cultura representada por peças como "Meu tio é tia", "Greta Garbo, quem diria, acabou no JK" e, é claro, "Como sobreviver em festas e recepções de Buffet escasso" - outra que sobrevive mais que barata em explosão de bomba atômica.

Ir ao teatro é bonito de dizer, mas tem se tornado cultura inútil como muitas outras. Ninguém gosta de pensar, questionar e criticar. Esse é o efeito que eu creio ser causada pelo "Pão e Circo" de Belo Horizonte. Comemos, nos fartamos, e depois vomitamos de tanta "cultura" que é injetada em nossas veias. Ah, sim! Agora somos completos.

Ainda bem que podemos ter a certeza de que durante todo processo de "obliteração do espírito crítico" já ocorrido na história, houve uma força contrária. E na maioria das vezes venceu. Procure as boas coisas de BH, elas existem.

Um comentário:

Pipa Cavalcanti disse...

saiu hj uma edição especial da Veja sobre BH.
Isso pode ser um bom mapa.